Na sessão nomeada A perspectiva teórica francesa a autora mostra o surgimento da AD como ciência essencialmente interdisciplinas, por tentar analisar a língua de maneira linguística, histórica e psicológica. Como objeto de estudo dessa ciência, citando Maingueneau (1987), a autora propõe os dois componentes formadores da linguagem e passíveis de estudo: a competência específica, isto é, as regras linguísticas; competência ideológica que torna possíveis as significações novas ou o reconhecimento das já conhecidas. Porém, a palavra ideológica empregada como fator chave para delimitação do campo de estudo tem uma história de significação controversa e bem por isso a autora utiliza a próxima sessão para definir o termo através de um apanhado teórico-histórico.
O primeiro conceito em cima da palavra ideologia discutido no capítulo é acerca do sentido atribuído por Marx e Engels, para estes a ideologia seria uma lente através da qual a burguesia imporia à sua visão de mundo distorcida às massas, distorcida pois apesar de ter base na realidade, a ideologia à colocaria de ponta-cabeça, de acordo com os mecanismos necessário para manter o poder da classe dominante. Marcação pessoal, é um conceito que se assemelha ao que chamaríamos de alienação ou manipulação.
Já em Althusser(1970), mesmo mantendo uma interpretação congruente com a ótica marxista pejorativa do termo ideologia, há uma divisão entre essa "ideologia dominante" e uma "ideologia geral" que seria a relação imaginária dos indivíduos com a realidade, isto é, a interpretação consciente ou inconsciente da realidade, a referenciação do homem ao plano material. Assim, apenas através da ideologia é possível exprimir a realidade, pensar, refletir ou referir-se à ela, é a ideologia que faz do indivíduo um sujeito inserido em práticas reguladas pelos aparelhos ideológicos (como a religião, a família, etc).
Em seguida, abordando Ricoeur, Brandão atenta para um sentido anterior ao apontando por Marx como ideologia de classes, seria uma ideologia geral responsável pela integração social do indivíduo. Através desta há a perpetuação de um ato fundador inicial, isto é, o mantimento da força inicial de um ato para transformá-lo num costume, pertinente à necessidade de representar-se de cada grupo social. A ideologia seria também o motivo e a justificativa da práxis social, ou seja, é o que dá razão de ser aos grupos existentes e seus costumes e práticas. Em terceiro lugar, seria sua função formar slogans, simples, que codificassem de maneira racional suas idéias, ou seja, a linguagem é a maior ferramenta ideológica. Em quarto lugar está o fato da ideologia ser inconsciente, ela é uma lente através da qual vemos mas não podemos vê-la diretamente, por isso ela distorce a realidade, voltando ao sentido marxista. E por fim, a ideologia seria responsável por uma inércia, seria um pensamento reacionário, que rejeita o novo e quer manter o que já se é de praxe.
Ainda na teoria de Ricoeur, a autora faz referência à outras duas funções da ideologia, a função de dominação, que busca manter os aspectos estruturais e hierárquicos da sociedade, como o poder governamental, é a ideologia que o legitima, ou a autoridade de um professor em sala de aula. A outra função seria a de deformação, que seria o mesmo adotado por Marx e Engels, de distorcer a realidade de acordo com os interesses de determinada classe, para mantimento do poder ou outros fins.
Concluindo a discussão acerca do tema ideologia, Brandão afirma que ideologia é uma visão do mundo que opera por trás dos pensamentos, da linguagem e das ações, regulamentando-os e ditando-os.
Bruna Dancini
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