Desça, criança. Venha brincar. No escuro não há diferença entre aqueles que estão vivos ou mortos.
A lâmpada nunca funciona bem no sótão. Brincadeira infame do acaso com meus medos mais sutis. O ar foge dos pulmões. Mãos invisíveis (inexistentes?), várias, sufocam-me o colo. Desnecessário respirar aqui. O odor de mofo e coisas velhas me lembra a morte. São alguns segundos até chegar àquelas caixas de pesadelos. Flashbacks
Seis anos: Meus pais trabalham fora. Nós não temos uma tv, é contra a religião. Estou só. As águas, furiosas, despencam do céu em momento oportuno. Uma criança, sozinha, sentada na calçada gélida da garagem, chora.
Onze anos: Madrugada, era proibida a estadia no computador até tão tarde. Mas estava ali, ainda assim. O pai chega do trabalho e abre a porta. A menina vira um tipo de criatura lobo e ataca o pai. Acorda.
Dezesseis anos: A maconha ainda que não alucinógena causa síndrome do pânico. São onze da manhã, mas ser sufocada pelo escuro a atinge.
Dezessete anos: Uma febre alta, Samara visita o quarto.
Vinte anos: Começam os delírios do sono, na madrugada, abre os olhos após um sonho e vê pequenas criaturas sobrevoando seu rosto. Elas fogem quando abre os olhos. A internet explica o fenômeno, nada sobrenatural.
A falta de ar nunca passa. O medo do escuro. É melhor fechar essa caixa. Há outra. Fotografias. A família... a ordem natural das coisas é que os pais se vão antes dos filhos. Mas isso a perturba e era preferível que fosse o contrário. Sonhos assim a atormentam. Filmes dramáticos sobre câncer perpassam sua mente frequentemente. Melhor parar de assistir a dramas.
Tantos cantos escuros. A psicanálise exploratória ainda não está feita. Nem será agora. O convidado não é trazido aqui. O que vim pegar, desapareceu.
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