terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Deitada na cama dele como se fosse sua, shorts largo, cabelo bagunçado, cara limpa. Olhava pra ele com um ar que nem conhecia. Eu apenas o observava. Cada um dos fios bagunçados de seu cabelo. A pele branca e a barba recém-feita que ainda deixava marca. E ria, e ele me jogava da cama como criança, e ria. E era uma criança adulta, era corpo de mulher e riso de menina. Olhos estreitos enrugadinhos de rir. E eu disse que faria uma crônica sobre a pizza, e ele poetizou brincando, fingindo que não sabia de nada, mas as palavras mais bobas dele eram poesia no meu ouvido. Nós poderíamos fazer qualquer coisa inútil do mundo e seria o paraíso. Ficar deitados dormindo ouvindo a chuva. Eu não dormia, sentia o cheiro da sua pele recém banhada. Sonhei acordada. Era eu e você e mais ninguém, e nossa casa. E eu via eu e você brincando para sempre, você me perseguindo pra me jogar no chão e me dar um beijo macio como são só os teus. Quem é você que me tira a rotina mesmo se fizermos a mesma coisa todos os dias? Quem é você colocando tudo que eu nem sabia que estava bagunçado, no lugar que agora parece perfeitamente certo? E eu que descubro, nem sabia o que era alegria antes de rir com seu beijo de bebê sapeca. Que é que a palavra amor diz? Eu acho que não diz nada. Porque bem antes de ouvir essa palavra de você, eu já tinha certeza de que era algo muito maior que acontecia. Tem uma musiquinha de toque macio, tenho sorte por amar meu melhor amigo. Tenho sorte do meu melhor amigo ser o meu amor. E a pizza cadê? Nós dois montando pizza, o estômago roncando, mas quem disse que a fome consegue ser maior que a vontade de te abraçar? Nada pode. E eu fico aqui como se fosse normal esquecer que se tem qualquer coisa da vida além da sua presença. Todos os outros momentos eu estou pensando nela. Vício. Eu bebo do seu álcool como água de garrafinha. Finjo que não é nada, mas lá no fundo eu sei muito bem que são mudanças profundas e que eu devia ter medo, mas assim como tudo, você mudou até meu medo, escondeu onde eu não encontro, como se ao menos tivesse procurado, pff...

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