terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Eu poderia descrever o rosto e sensação de cada um. Cada aviso. Mas meu tempo estava acabando e eu ainda tinha algo a fazer. Não sei explicar como, porque, mas Deus me mostrara que eu tinha algo a aprender ainda. O atestado de óbito saiu às 9 horas da manhã. Às cinco começou o meu velório. A surpresa era visível em todos. Havia alguns familiares doentes. Quem imaginaria que a moça que ainda nem completara 19 anos morreria? Eu fui pacata na medida do possível, universitária, namorei, ia a igreja. Não, eu não fui um alvo em potencial. Eu não busquei por isso. Mas incrivelmente eu não me sentia mal por ter partido. Mesmo com apenas 19 anos eu tinha feito tudo que devia fazer, eu tinha ensinado amor para quem eu poderia ensinar. Eu tinha aprendido a me amar com todos os meus defeitos. E com isso tinha aprendido a amar aos outros. Todos choraram, porque eu sorria no meu caixão. Eu havia pedido que doassem todos os meus órgãos e depois cremassem. Minha mãe segurava minha mão. E por mais que ela chorasse sem parar, e papai, e minha irmã, e até meu cunhado. Minhas primas... E minha melhor amiga. Ela estava ali sozinha num canto com seu bebê. E chorava silenciosa. Soluçava baixinho para que ninguém visse. Eu fui sua irmã. Eu continuaria dando conselhos de onde quer que eu estivesse. E talvez agora, agora ela escutasse e se entregasse mais ao amor. As horas se passaram, até algumas piadas foram contadas na madrugada. Eu senti mais amor que jamais tinha sentido em vida. Meus pais abraçaram meu namorado. E eu os abracei. Eu sempre fui curiosa, e mais que nunca agora queria partir. Seria duro deixar tudo para trás, mas eles poderiam dizer que dormi em paz. Eu amei e deixei amor. E eu, alma, parti, num último adeus, soprei lírios brancos pelo gramado. Era minha flor favorita e talvez ninguém soubesse. Eu quis dizer que os amava, todos ali. E quando entrei no tunel que me levaria ao próximo nível...

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