sábado, 25 de fevereiro de 2012

Reflexões da insônia

Às vezes você senta em frente ao computador e não há nada para ser visto. Não há nada para ser comentado. Há apenas a sensação de que é mais uma metáfora de um mundo que está a sua frente e durante algumas horas de insônia não serve para nada. Ao som de Radiohead você pensa na inutilidade da passagem por aqui se você, de fato, não deixar marca nenhuma. É aí que seus dedos coçam e você pensa que tem algo a dizer para alguém. Pode ser alguém do passado, ou alguém que você nem conheceu, aquela vizinha com a qual você pensou em fazer amizade, mas foi tímida demais pra tentar. Pode ser para um avô que você nunca conheceu, perguntar para ele, se ele pudesse, teria salvo seu pai dos sonhos ruins? Poderia ser alguém do futuro, daqui 40 anos perguntar pro meu filho se estou sendo uma boa mãe, mas ter a resposta agora para poder concertar. Pode até mesmo ser para os pensamentos ruins que não deixam dormir em algumas noites. Perguntar se eles realmente trazem a reflexão, ou se são apenas tormenta. Você poderia dizer que é apenas perguntar para o meu subconsciente, mas não é como se ele andasse me deixando pelo menos sonhar para ter algum sinal.
E você fica lá acordada pensando em idiotices como eu não deveria ter brigado com minha irmã no dia antes do casamento dela ou eu devia ter sido mais amorosa com meu avô enquanto ele estava vivo. Não é como se de fato fosse servir para qualquer coisa, então eu pergunto, cérebro, porque fica me questionando com essas inutilidades, me lembrando da insegurança da infância de menina gordinha, ou da sensação do dia que fiquei sentada na garagem durante a tempestade porque estava assustada demais para ficar dentro da casa sem luz. Que era incrivelmente parecida com a sensação do dia que não passei no vestibular, quando fiquei uma hora e meia sentada no carro na garagem da loja onde minha mãe trabalhava, chorando descontrolavelmente com a primeira derrota que todos puderam ver. Parece que não tive muita sorte com garagens até agora. Falando nelas, teve a vez que sentei na frente da garagem, escondida uma da manhã, quando meu primeiro namorado depois de um ano de terminado só queria se abrir, como se de fato um dia tivéssemos sido amigos. Teve uma vez na garagem, eu tinha três anos e era meu aniversário e eu pisei num prego, eu não me lembro bem, mas lembro da lona preta onde tinha o prego. Acho que eu deveria evitar as garagens, carma ou sei lá, devo ter batido o carro numa outra encarnação e destruído a garagem de um vizinho.
É estranho escrever essas coisas que nem eu mesma admito conscientemente, como se fossem pedacinhos de dor que nem mais fazem parte de mim, eu olho e parece que estive lendo o diário de uma outra pessoa. Crescer é algo incrível, mas a menina boba que enviou uma foto pro menino da quarta série, quando estava na segunda, ainda mora aqui. Ainda tem medo quando as pessoas olham, e medo de escuro, e de ninguém gostar dela porque seu nariz é grande e ela não é a magrinha.
Esse tipo de insegurança é tão bobo, eu sei que já deveriam ter passado, mas quando de fato eu admito? Quando as pessoas se tornam muito próximas eu fujo. Nem acredito que venho tendo um relacionamento de verdade, mas às vezes eu ainda não admito meus medos, o que vão pensar, será que ainda acham que eu sou uma menininha? Será que eles sabem? É engraçado como temos que usar essas máscaras. Têm horas, como aquele beijo na cozinha hoje, em que os fantasmas vão embora e são apenas eu e você, e aí é que eu te amo mais, porque essa eu de agora é perfeita para você, os fantasmas é que ficam dizendo é que ela não é perfeita pra ninguém.
E vai saber quando eles nasceram? Se foi tentando chamar a atenção da mamãe sendo a melhor da classe porque eu era a filha feia? Ou quando as meninas mais velhas me enganaram com a brincadeira do compasso e me falaram que eu pertencia à outra dimensão e que teria que voltar pra lá... e eu acreditei e isso me deixou estranhamente mistica depois de todo aquele tempo? Pode ser também com os bilhetinhos amarelos que nunca foram esclarecidos. Ou quando a Camila da segunda série, minha melhor amiga, foi embora e eu nunca soube porque. Ou quando a Antoniela foi, a Luana, a Nina, a vaca da Bruna, todas essas meninas nas quais confiei e que sumiram. Acho que é por isso que não lido bem com elas agora, digo, amigas. Não aprendi a confiar, muitos fantasmas vieram daí também. Tem os fantasmas da fuga de casa, e da adolescência e toda sua falta de sentido. O nome disso é fluxo de consciência, isso de escrever essas coisas random que estão na minha cabeça. E porque é que meu navegador não quer funcionar e eu não posso abrir o google nem o youtube? Será que ainda não terminei de desabafar? Eu admito todas essas coisas idiotas, e o modo como ainda tenho medo de andar pela casa no escuro, e medo de ficar sozinha, medo de desapontar, medo de ser esquecida ou sei lá todas essas coisas que deveriam ter ficado para traz com a suposta maturidade. Pois é, acho que não lido tão bem com tudo. Mas me sinto tão melhor só por ter escrito qualquer coisa, É a insônia ou a tpm? Ou os fantasmas da noite?

brudancini