quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Sobre o bem interessado.

Como o bem se manifesta no cotidiano das pessoas ocidentais? A partir de leituras acerca da necessidade de uma partilha do sensível, da construção dos significados socialmente e, de maneira geral, da necessidade de uma sociedade guiada pelo ser no mundo, nesse mundo realmente tátil em que nos inserimos, as conclusões são pessimistas. 
Ainda que a maioria de nós concorde que o bem é um valor em si só, a aplicabilidade desse conceito é falha numa sociedade religiosa. Numa lógica de salvação ou danação eterna, na qual a sua passagem pelo mundo tangente é apenas um meio para se chegar a um fim, o bem como valor ontológico se rarefaz.
Se um cidadão realiza o que considera o bem, esperando pela recompensa da salvação eterna, ou ainda temendo uma punição eterna, não é o bem que se está praticando e sim um treinamento canino.
Somos treinados a temer a figura que chamamos de Deus e não a conhecer os valores que atribuímos a tal figura e aplicá-los pelo seu mais simples princípio ético.
Cria-se um mecanismo de controle, parecido com a prisão de Foucault, na qual uma torre no meio da prisão, espelhada, ainda que vazia, passaria a eterna sensação de ser observado, impedindo fugas. Assim é a figura judaico-cristã de Deus. Aquele que tudo vê, auscultando seus mais íntimos pensamentos. É uma forma de prisão.
Dessa forma, nós, os presos vigiados, ainda que muitas vezes sendo guiados a ações consideradas malignas, acabamos não as realizando. Todavia, essa não realização não se dá pela reflexão sobre o que é o mal e suas consequências éticas. Se dá, em verdade, por medo de uma punição.
As consequências disso são pessoas que, cada vez mais, só respeitam aquilo que lhes é diretamente cobrado. O limite de trânsito só vale quando temos um radar. E o radar funciona da mesma forma que o princípio divino.
Numa busca pelo bem enquanto valor ontológico e aplicável nessa estado de ser no mundo, é imperativo que não seja a vigilância o princípio regulador e sim a reflexão.