sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O ciclo da água

Escorrega no plano do vidro como se brincasse de escorrega num parque de diversões efêmeras. Sinto seu cheiro à misturar com o cheiro de terra e lembro do barro que se forma no meu tênis e as gostas que gelam minhas canelas. Mas com canelas em chá me faço quente e não posso mais incomodar-me com a chuva, quem a invade sou eu, não ela. Afinal o espaço de quem é? É dela, que cria o sapateado da Mãe nos tetos dos pais.
Com doces rajadas sopra ao meu ouvido os segredos dos dias da leitura, e encanta-me com suas histórias das infinitas passagens pelo vapor etéreo que logo se faz chuva e se faz chover e até que muitas vezes se fez lágrima e se fez chorar a alegria e se fez chorar a tristeza, o importante é que fez tornar ao seu e tornar à terra onde por fim nunca descansa.
E eu a escuto de olhares suspirantes e suspiros encantados de ver a gota que escorre no vidro e volta pro chão pra tornar ao céu e para sempre ir e voltar como faz meu humor para enfim fazer minh'Alma.

brudancini


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

‎"O livro acaba quando o inútil da felicidade principia" - Mário de Andrade

Andei me questionando porque não tenho escrito muito nem sentido muito a necessidade de escrever que sempre me foi peculiar. Lendo essa frase de Mário de Andrade reflito e acho uma resposta. As grandes sinfonias não te trazem um sentimento de angústia? Os grandes romances não são feitos pela tragicidade? Mesmo os contos de fadas não acabam no felizes para sempre? A arte nasce do sofrimento. E porque? Porque o sofrer desperta o nosso inconsciente e o traz à superfície. O inconsciente onde se abrigam todos os mistérios e toda a profundidade que há no homem, e aí, surge a arte, expressão mais profunda da alma humana. E porque? Porque essa alma humana não está conseguindo se manifestar através da felicidade.
Quando felizes, nossas almas, nossas identidades, ou seja lá como chame isso que compõe o que há de profundo no ser, do ser humano, repousa em águas mornas de um rio que corre tranquilamente, quase estático, e rios tranquilos e mornos não esculpem suas margens.
É bem por isso que enquanto felizes, depois do felizes para sempre, a arte não se manifesta como quando angustiados. Porque a profundidade do seu ser está manifestada no olhar em direção á pessoa amada que lhe corresponde. Então, resta-me o que não é arte, o estudo e a pesquisa, e aí posso manifestar talvez não a profundidade artística, mas a riqueza também da consciência.

brudancini

domingo, 7 de agosto de 2011

Abri assim meu blog e fiquei aqui pensando se eu ainda tenho algo à dizer. O mais engraçado é que até meus 16 anos eu sempre tinha protestos sociais à manifestar, indignações públicas ou confusões existencialistas. O negócio é que é mais fácil questionar tudo quando se é, de certa forma, inocente. Hoje, com uma bagagem social um tanto maior, eu percebo que ficar gritando aos quatro ventos que você não concorda, sem ter uma solução melhor, é mesma coisa que ficar calado. A prudência é amiga íntima do silêncio, e confabulam sobre o futuro em nossas mentes.
Me perco em leituras tão mais profundas que eu. As neuropsicoses de defesa, O existencialismo é um humanismo, A questão da técnica, Poesia Social, e parece que me superficializo, contente com o pensamento dos outros, afinal eles têm muito mais autoridade e eu sou uma mera pseudo-intelectual acadêmica que adora citar sempre os mesmos nomes. Pelo menos eu conheço um pouco desses nomes.
E paro para refletir se isso, de fato, é ruim. Isso de absorver o discurso alheio sem filtrá-lo muito para conceber um que seja meu. Não consegui chegar numa conclusão, afinal não tenho meu discurso. Não, baby, foi só a dose de irônia do café da manhã. Por fim percebo que tudo que acontece agora é o caminho de reflexão e antítese para chegar até a síntese que serei eu na minha maturidade. Mas por enquanto, agora, sou apenas um abstrato de conceitos em conflito.

brudancini

sábado, 6 de agosto de 2011

Faxinas Emocionais

Pois é, eu faço. Eu pego o meu armário emocional, jogo tudo em cima da cama e começo a separar por cor, se uso pra dormir, pra sair, pra estudar. Coloquei numa prateleira lá em cima, onde eu não vejo muito umas emoções passadas, sabe, cheias de bolinhas e que me dão alergia sempre que coloco. São emoções acinzentadas e ruim, que nas fotos sempre parecem coloridas e legais, mas na vida real só pinicam. Aí fui arrumar meus cabides, aquelas coisas que ficam bem visíveis assim que você abre o armário. Eu adoro guardar lembranças aí, uns sorrisos sabe? Rs, encontrei um sorriso da primeira vez que ele disse que gostava de me ouvir cantar. Essas emoções que ficam ali sempre dá pra reviver como se fosse agora. Aí fui pras gavetas, você meche, mas não quer que os outros saibam o que está ali. Coloquei ali minha insegurança e suas variáveis. E aqueles medos, sei lá, morte dos meus pais, o fim de nós dois, aquelas coisas que são insuportáveis. Mas que tem de ficar ali.
Aí fui pra prateleira dos amigos. Dobrei eles e deixei-os guardados, tem algumas peças que eu nunca vou dar, mesmo que não sirvam mais. Fiquei olhando alguns por algum tempo e sorri, junto com esses ficam lembranças que dão uma saudadesinha gostosa de sentir.
Aí fui pra uma das maiores prateleiras, competindo com as coisas de infância e de família. A prateleira de nós dois. Ela é cheia de coisas de diversas cores. Tem a insegurança, tem o medo, mas também tem a alegria, a paixão, o sexo, a amizade, os planos do futuro. É tanta coisa entre nós dois, e sabe é difícil organizar tudo e ainda dar espaço pra prateleira que tem uma etiqueta escrito eu.
E sabe eu ainda estou ali, estou ok, toda misturada com você e ótima por isso. E ao mesmo tempo que algumas coisas do eu meio que brigam por lugar com o nós, eu morro de medo de deixar algumas peças de você voltarem para o seu armário. Eu tenho medo de te deixar mais livre e acabar perdendo você. Eu sei que é egoísta da minha parte. Mas eu não quero te deixar ter opção.

brudancini
Alguém me falou pra tomar cuidado com as manias e a preguiça depois de um tempo de namoro. Faz um sentido absurdo. No começo somos engraçados, fofos, arrumadinhos, todo tempo. Não é uma máscara, é mais que quando você viu a pessoa só algumas vezes na sua vida é fácil de manter esse entusiasmo e essa alegria toda. Mas depois, quando você começa a ver todo dia, muitas vezes nem tem assunto, não tem novidade nenhuma, e tudo fica estranho quando você não tem uma vida além disso. E se você tiver, o outro acha que está perdendo a importância. Na verdade o que acontece é o contrário. Quando você tem a sua vida, as suas coisas, você dá mais importância àqueles momentos bons com ele.
Não sei se acontece com todo mundo, mas quase todo mundo que me diz sobre algum fracasso sentimental, tem alguma relação com a acomodação. Nos vemos todo dia, então nem vou arrumar meu cabelo. Pode ser uma roupa qualquer. Ele não vai ligar. E no fim, mesmo sem querer liga. Porque sentimos falta daquela magia incandescente dos primeiros meses.
Temos que continuar prestando atenção pra sempre sabe? Não é "não sermos nós mesmos" é construir um eu adaptado e que seja o eu pelo qual a outra pessoa se apaixonou. Às vezes nossas manias, nossos ciúmes bobos, mal humores, ou mesmo a hora de lavar a louça ou de dividir a coberta faz o outro te ver sei lá, como um irmão que você é obrigado a aguentar.
Eu sei que a maior parte disso é inevitável. Mas o tempo e o convívio aumentam a carga de tudo. Então nós temos sempre que prestar atenção. E eu ando simplesmente esquecendo de prestar atenção, deixando tudo ir como se fosse o destino, e não sou eu mesma que vivo elogiando Sartre e aquela coisa de que tudo que nos acontece é nossa responsabilidade? Agora abandono a inocência e me encarrego das consequências dessa reflexão. Temos sim que manter algumas máscaras, e principalmente, tentar agradar é o que mantém a chama viva.
brudancini

A saudade

Não vê que se entrega à preguiça de não escrever como se se entregasse à preguiça de tratar-se de um câncer? Como não vê que tua psiqué grita pela liberdade do desabafo? Que tuas opiniões estão vagas porque deixou de gritar. Grita, criança, grita que te fazem bem os ares do pulmão à fora. E grita na beira de um precipício de gente surda que é pra ver se pelo menos lêem os teus lábios e param de não pensar, tentam pelo menos adivinhar.
Que o silêncio é o veneno da alma que te leva para o animalesco lado da ilusão.
brudancini

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Cartas em Branco


Há, em minha mente, uma grande folha de papel toda suja de apagar com borracha verde. Eu escrevo e apago o tempo todo, e o título é a unica coisa que eu ainda não alterei. É o maldito título do texto que o DETRAN me pediu para escrever “Eu sou uma pessoa…” e eu não sei a resposta. Eu talvez tenha medo da resposta. Porque eu sou uma pessoa egoísta, egocêntrica, iludida, cheia de dúvidas. Metida. Tenho uma certeza infundada de um talento inexistente. Eu acredito piamente num sucesso que até agora não deu nenhuma mostra de realidade. Corro atrás de sonhos bobos e esqueço deles com uma rapidez incrível. Eu me arrisco e jogo tudo fora. Amasso a bendita folha só pra depois passar horas tentando desamassar o que eu acabei de fazer. Porque é que eu tenho que ficar me perguntando isso todas as noites sem conseguir dormir direito e no outro dia ficar morrendo de sono com a bendita dúvida ainda na cabeça. Sempre que tento desabafar com ele ele pensa que as dúvidas são sobre ele, mas que inferno, eu sei bem o que sinto e sei muito bem que é forte. O que não sei é quem sou eu e se eu mereço que você goste de mim. Quando estou angústiada sou o inferno, como é que aguenta? Eu quero jogar essa folha fora e não precisar enviar a resposta sabe-se lá para quem.

brudancini