sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Vai um café?


Chegando na cozinha, você pode até pensar "Mas que casinha incoerente!". No entanto, enquanto coo um café amargo, o cheiro forte te espanta. Te traz para um realidade tátil. Quando volta teu olhar para a sala de estar, um susto. Se esvaiu, o que vê é a porta vermelha. De fato, uma casa incoerente.
Percebe, que a sala só existe para olhos desapercebidos, mal treinados. Que a porta, na verdade, dá direto na cozinha. A sala era apenas realidade virtual.
Entre utensílios, coisas úteis, quero dizer, nos encontramos numa mesa. Em mesas exponho as cartas da vez. Eu disse que era uma casa de sentimentos. Mas na verdade, eu acho, de sentimentos também se invadem as razões. Que razão terá o fim se não o entremeio dos desesperos?
Quantos biscoitos à fazer antes do café estar pronto de verdade.
Na cozinha, a janela dá para a rua. E na rua os carros levantam poeira, encobrindo o pôr do Sol. Ainda assim, o sentimento é ambíguo. O pôr do Sol está ali, e ele ainda é mágico, ele ainda reflete a porta vermelha. Mas a poeira deve ser vencida, e o café é necessário. Que fiquemos acordados até a hora certa de chegarmos ao quarto.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Da casa da porta vermelha



Mal abri a porta vermelha, e já chegamos na sala. A sala é um ambiente construído. Não é como o resto da casa. Ninguém relaxa numa sala de estar. Estar, que tipo de nome é esse. Você está ali, parado, meio desconfortável. Você pode sentar no sofá, mas cuidado pra não derrubar nada. Na minha sala, o tapete é de ovos. E isso é danado de complicado. Ou você fica com o pé frio de pisar no piso, ou então pisa nos ovos. Eles são encaixadinhos, mas sempre podem quebrar.
Te ofereço uma cadeira, alguma coisa pra beber. Não é como se realmente te oferecesse algo para beber e eu fosse ter o que você pedisse. É só conversa fora, você sabe que é café ou um suco sem graça, de pacotinho.
Ligo a TV e a previsão do tempo. Se fosse um prédio e não uma casa, elevador.
Aí você se sente desconfortável, eu também.
Nota mental, transformar a sala num ateliê.
Mas vem, não desiste, pede pra ir no banheiro, ou conhecer a varanda...

Red doors

Eu quero fazer de meus sentimentos, portas vermelhas. Portas vermelhas sussurram mistérios. Muitas vezes são chorosos. No entanto, te atraem para ela com um místico calor. Derrubar muros e expor as portas. Elas, ainda que trancadas, sempre oferecem a maçaneta. Você poderá abri-las. Observar a organização da sala de visitas e, com algum esforço, compreender a bagunça de meu quarto.
Você poderá tropeçar na mesinha de centro. Tem um grande vaso com lírios nela. Traz uma paz para a sala de visitas. Não se distraia. Continue pelo corredor. Ali você poderá encontrar alguns quadros, fotos de infância. Você pode ficar algum tempo ali, é um lugar feliz. Mas não perca o rumo. Eu te convidei para conhecer a casa não é? As portas são vermelhas. Na cozinha, o café te faz sentir ambíguo. É um acordar tão realista que dói, mas o cheiro é agradável e inspirador.
Quando chegarmos ao quarto, não se assuste. Todas essas roupas, esses livros, essa desorganização, sou eu ainda. Se você abrir aquele livro, de capa preta, ele pode verter água. Mas ela é pura e não mancha. Um pouco de tempo e seca. Se revirar aquela pilha de vestidos, pode encontrar alguma poesia. É coisa ruim, mas há ainda um perfume no papel. E se sentar em minha cama, ao meu lado, posso te contar porque a porta é vermelha.
Eu sei que é difícil chegar até lá. Mas eu te conduzo pelos caminhos e te ensino os atalhos. A porta é vermelha, mas os retratos são preto e brancos.

Bruna Dancini

terça-feira, 30 de abril de 2013


São tantos causos e aflições pra contar, e tanto dia a dia pra acontecer, que esqueço de olhar no teu olho e dizer que te amo, te mostrar aos pouquinhos que sem você não sei viver. E cada noite ao dizer boa noite, vem uma necessidade avassaladora de ter você aqui, porque todas essas horas sem falar com você só trazem sonhos ruins. Eu perco o sono, lembrando cada riso teu, cada bobeira, só não esquece que apesar de toda a chatisse, no fundo só quero chamar sua atenção...

É que eu preciso dizer que eu te amo, te ganhar te perder, sem engano...

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Crescendo

Que clichê dizer que crescer é chato e démodé. Mas de que me importa, preciso dizer.Quando estou com as crianças e tenho que ser chata e mandar pararem de fazer as coisas. Se a água estourasse e eu não fosse a profe, eu ia morrer de rir, estava calor. Mas eu tenho que ficar de mal humor e brigar.
Crescer é tão chato. Eu queria era ver desenho em vez de filme de terror. Sempre. Eu queria que minha mãe se preocupasse com o que eu comi e não com o que vou fazer depois da universidade.
E as crianças loucas pra serem grandes. Meninas de 12 anos que já perderam a virgindade e acham que são super legais por ter um facebook. Se eles soubessem. Ainda deu tempo de brincar de Harry Potter na escola aos 12. Mas mesmo assim, cada vez têm menos tempo, as crianças. Aos 2 estão na escola, aos 4 no ballet, no inglês, no francês, na ginástica. E brincar, e sonhar, e pular? Cadê?
Não quero destruir infâncias. Eu quero continuar sonhando. Não quero destruir a minha infância infinda, ficando brava com coisinhas de 4 anos que só fazem arte porque precisam de atenção.
Concentra, ser criança é diversão.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

“Isaac vira furacão e atinge sul dos EUA” O Estado de São Paulo, 29/08/12.

“Isaac vira furacão e atinge sul dos EUA” O Estado de São Paulo, 29/08/12.

Isaac era um corretor, calmo e pacífico. Sempre com seu encarte de imóveis, vendendo casas por aí. Mas sua mulher, Catrina, o abandonou. A mulher decidiu fazer plástica, renovar o guarda-roupa e de um dia pro outro virou um furacão. Despedaçando o coração de Isaac.
Ele tentou resolver com bebida, tentou a música, mas não tirava Catrina da cabeça. Só havia um jeito. Isaac entrou pra academia. Começou à ler política, ouviu música clássica, comprou um carro. Deixou de ser corretor, decidiu virar Johnny Cash. Isaac virou um furacão. Seguiu os passos de Catrina.
Mas Isaac continuava deprimido. Tão deprimido que virou uma depressão tropical. Nenhum psiquiatra entendia seu estado. A bebedeira não parava. Isaac não tinha jeito. A família, judaica ortodoxa, já não via solução para a ovelha negra.
Eis que então, certo dia, Isaac encontra Catrina. Essa, um furacão apaziguado, nesse dia, lhe repara a aparência bucólica, embriagada. Que passa, se perguntou. Mas tudo já lhe estava claro, só Isaac não sabia.
O que lhe levou a depressão fora o nome que fora imposto.
Para ser um furacão, furacão de verdade, tinha é que ser Hilda, Hilda furacão.
Isaac virou Hilda, colocou peruca ruiva. Usou salto 15. Deixou as unhas crescer. Agora já não é uma depressão tropical.
Agora você pode ver seu show de quarta à domingo na Boite Paradaise. É conhecido como Hilda. É, hoje, um furacão.