segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Chapéusinho vermelho... ou seria uma boina?

Era uma vez num império muito muito distante chamado Ussira uma família que morava no extremo esquerdo do reino. Nessa família vivia à filosofar uma pequena menina chamada Fidélia, mas era conhecida como Chapéusinho Vermelho pois, sua avó, Marcusca, avia tecido com seus companheiros uma capa do vermelho mais vivo que existia e assim a menina ficara conhecida. Porém, os anos de trabalho de Marcusca já haviam findado, e a velhinha ficava em sua cabana, sozinha no outro lado da floresta que era a fronteira de Ussira com a república de Carimea. Em Carimia ninguém apreciava a companhia de vovó Marcusca, então, a pobresinha nada podia comprar ali, sendo então sua netinha Fidélia a encarregada de levar seus alimentos semanalmente. Já há algumas semanas um grande Lobo também conhecido como Lobo Sam, e pitorescamente era um lobo azul com pequenas listras vermelhas em seu pescoço peludo. Como dizíamos, o Lobo Sam já há algumas semanas espreitava o caminho da pequena Fidélia. Enxergá-la em sua reluzente capa vermelha não era nenhuma dificuldade, e isso era facilitado ainda mais pelo fato da menina falar pelos cotovelos.
Certo dia, a garotinha saíra de Ussira e começava a atravessar a floresta quando Lobo Sam começou a caminhar ao seu lado, cumprimentando-a com sua bela cartola.
- Olá, chapéusinho, como estão os doces hoje em sua comunidade?
- Estão ótimos, são sempre iguais, iguais somos todos em nossa comunidade. - Respondeu uma convicta chapéusinho.
- Mas os docinhos que deve levar para a sua vó não devem ser especiais? Afinal, ela trabalhou por muitos anos para construir Ussira como você á conhece. -Dizia o Lobo Sam ainda com o seu sorriso fraternal e gordo.
- Não... bem, sim, ela é especial, mas todos devemos ser iguais!
- Mas chapéusinho, não seria assim um tédio se de fato todos fôssemos iguais? Como saberia eu que eu sou o Lobo Sam se eu fosse como você e usasse a sua capa vermelha? - Astuto, o lobo não esperou pela resposta e saiu pela floresta por onde seu riso alegre podia ser ouvido.

A dúvida plantada pelo Lobo Sam martelou na cabeça da garotinha e então a mesma decidiu que sua avó merecia alguns docinhos especiais. Então, sabendo a localidade da casa de doces de uma velha bruxa a menina encaminhou-se até lá, afinal, se todos éramos iguais aquilo não era furto era compartilhar, palavra que lembra companheirismo e é sempre bem vinda em Ussira. Assim, ainda acompanhada pelo olhar de Lobo Sam a menina embrenhou-se por uma trilha quase encoberta até chegar já uma grande casa feita inteira de doces. Silenciosa a menina tirou sua capa vermelha e escondeu-a atrás de uma árvore, afinal, chamaria muita atenção naquela cor. Levando apenas a sua cesta a menina colheu alguns bombons, e algumas trufas e também confetes e balas que jamais havia visto. Sua boca salivava ao ver aquilo, afinal, tais luxos eram dispensáveis em Ussira, se produziam muitas coisas para que todos ficassem bem, e essas coisas, luxos particulares, eram dispensáveis. Assim, a menina não resistiu e abocanhou um pequenino bom-bom. O gosto maravilhou-a mas bem nesse instante a bruxa sentira seu cheiro e abrira a porta. Assustadíssima chapéusinho saiu correndo, pegando sua capa apenas por poucos segundos e afastando-se da casa.
Assustada mas sorrindo por ter conseguido escapar a menina cantarola em direção ao fim da floresta e chegando à republica de Carímea. Logo que avistou a casa da vovó Marcusca sentiu-se orgulhosa por ter coisas tão gostosas para presenteá-la. Chegou a porta e bateu. Ouvia uma voz rouca de vovó mandando-a entrar.
Entrando ali viu alguém encolhido entre as cobertas na cama de sua avó e logo preocupada se manifestou:
- Vovó, a senhora está bem?
- Estou, minha netinha, só um resfriado. - A menina que era acostumada com a igualdade não reparou na rouquidão da voz da vovó, nem do volume enorme que seu corpo fazia na cama e foi sentar-se ao lado da avó.
- Ó vovó eu lhe trouxe os doces mais gostosos que existem, pois a senhora é especial.
- Sou mesmo chapéusinho, me dê cá um abraço - Então a velhinha abraçou a menina.
- Nossa vovó, mas a senhora está com uns olhos tão grandes!
- É porque estão cobiçando aqueles docinhos meu bem
- Mas está também com um nariz tão grande
- É porque sinto melhor o cheiro das guloseimas
- Mas também está com uma boca tão grande vovó - Então, livrando-se da máscara o enorme Lobo Sam se revela.
- É pra te englobar melhor chapéusinho.
A menina, apavorada, tenta se desvincilhar do abraço fatal e também grita. Eis que então, arrobando a porta, entra um bravo caçador, sua pele era amarelada e seus olhos como amendoas. Ele observando a situação, mas estando ali devido a um pedido de uma senhora idosa que cultivava doces que reclamara de furto em sua propriedade privada, suspeita de quem seja chapéusinho.
- Olá, os dois, nada façam até que eu ordene pois minha espingarda e meu machado podem matar qualquer um! Estou aqui como um lobo devorador e com uma pequena ladrona. Não querendo ser injusto com nenhum e sendo astuto como sou, darei uma alternativa à vocês. Farei uma pergunta, e vocês dois discutirão sobre ela, quem me convencer será poupado. Meu nome é Rumpelstiltskin e assim ordeno!
Tanto o lobo quanto a garotinha conheciam quão astuto era Rumpelstiltskin e decidiram acatar às suas regras.
- Então, me respondam qual sociedade no fim será mais evoluída, a república de Carimea ou o império da Ussiria?
Ouvindo a pergunta, chapéusinho riu. Conhecia todas as teorias do reino da Ussiria e sabia muito bem que a sociedade comunista era a melhor, pois não havia nenhuma injustiça. O lobo calou-se e meditou e então esperou chapéusinho tentar convencer o caçador.
- Pois bem companheiro caçador - começou a garota de vermelho - No comunismo todos nós somos tratados iguais e temos os mesmos direitos, assim não há injustiça, todos estudamos, todos comemos e todos temos uma casa, assim somos todos felizes e evoluídos. O senhor, um caçador tem os mesmos direitos que todos os outros da sociedade e por isso podemos todos viver numa sociedade perfeita, portanto mais evoluída.
Rumpelstiltskin considerou pausadamente a colocação da menina, então olhou para o lobo e esperou sua resposta.
- Chapéusinho, foi sua avó Marcusca que fundou os princípios da Ussiria. Muito amigos que já fomos, ela me contou o que acontece com todas as sociedades. Durante todas as histórias começadas com era uma vez sempre existiram oprimidos e opressores, sempre pessoas diferentes. À partir dessas diferentes classes e do embate entre elas sempre aconteceu a evolução, resultando numa sociedade melhor. No fim então a melhor sociedade que poderia existir agora seria o comunismo pois foia evolução de uma luta de duas classes. - Nesse instante o lobo parou por um instante e viu o sorriso convencido de chapéusinho e o olhar desconfiado de Rumpelstiltskin - Pois bem, mas se todos são iguais em Ussiria não mais haverá nenhum combate e nem diferentes classes para oprimir ou ser oprimido.
- Sim! Essa é nossa maior conquista - Afirma a entusiasta chapéusinho vermelho.
- Pois bem, chapéusinho e meu caro Rumpelstiltskin. A sociedade de Carimea tem diferentes classes, muitos são oprimidos e muitos são opressores. Mas eis que se há duas classes, de acordo com sua avó, haverá a evolução. Portanto, em Carimea a evolução nunca para. Já em Ussiria por tudo ser sempre igual, tudo está estagnado e nada evolui.
Boquiabertos tanto Rumpelstiltskin quanto a chapéusinho olharam para o Lobo Sam, esperando que ele devorasse chapéusinho. Porém, tudo que ele fez foi derrubar sua capa e assim libertou-a para viver em Carimea, provando que ali era o melhor lugar para se viver.
Lobo Sam então viveu por um longo tempo feliz para sempre em sua agência de markenting.

Bruna Dancini

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